
URUBÚ!
Nunca fui estampado em bandeira!
Ninguém me quer nas camisetas!
O Criador me pôs no mundo para ser urubú.
URUBÚ!
Não nasci para assustar ninguém, meu irmão,
Só vou atrás do que ninguém mais quer:
A CARNIÇA,
O OSSO,
O LIXO.
AS ENTRANHAS
São minhas conhecidas de velho
URUBÚ!
Sou preto porque o Criador me quis assim.
Tenho pontas de asas brancas e ninguém vê.
Sou preto de asinha branca, irmão,
E tenho muito gosto, eu sou
URUBÚ!
Minha cabeça é baixa e corcundinha,
Mas o meu vôo é dos pássaros mais nobres!
Eu sou nobreza e, olhaí,
Nunca fui estampado em bandeira
E ninguém me quer nas camisetas...
Vivo caçando o que é meu pão,
Só vou atrás do que ninguém mais quer:
A CARNIÇA,
O OSSO,
O LIXO.
AS ENTRANHAS
São minhas conhecidas de velho
URUBÚ!
Vivo em bando
E meus chapinhas me reconhecem.
Sou gracioso e humilde.
É...
Não sou amado como as garças,
Mas elas não tem a beleza que meus olhos
Já puderam ver, meu irmão,
E que guardo na memória da minha retina...
Elas que sejam garças,
Eu sou urubu! VIVA!
Você tá pensando que vive muito alto,
Mas eu vôo muito mais alto e olho de longe!
Você se acha vitorioso,
Mas eu ainda tenho pena de ti.
Você se pensa tão alto e vigoroso,
Talvez um dia seja minha a tua carniça.
Só vou atrás do que ninguém mais quer:
A CARNIÇA,
O OSSO,
O LIXO.
AS ENTRANHAS
São minhas conhecidas de velho
URUBÚ!
Você vive e pensa o tempo todo em se vingar!
Esparrama a tua cabeça no fofo travesseiro,
Planeja as falcatruas sobre teu companheiro
E um dia esquece de acordar,
Por causa de um estouro no coração...
Só vai sobrar o teu cadáver,
Teu orgulho, tua avidez e tua pressa.
Só vou atrás do que ninguém mais quer:
A CARNIÇA,
O OSSO,
O LIXO.
AS ENTRANHAS
São minhas conhecidas de velho
URUBÚ!
Tem gente que tem medo da gente.
Medo de urubú é o medo de si mesmo.
Você tem medo de urubú, me teme e se afasta
E eu tenho medo de você.
Nós vivemos afastados.
inverno de 2001.