Dor

Um dor.

A dor é a dor.

Ninguém sabe a dor do outro.

Ninguém consegue explicar a sua própria dor.

Existem algumas dores que foram as mais excruciantes e inesquecíveis da minha vida.

A primeira delas foi quando quebrou o cotovelo, aos 26 anos de idade, numa escadaria de uma praça em São Paulo.

A segunda foi poucos anos depois, a do nervo trigêmeo, que atacava toda tarde, impreterivelmente, até o remédio fazer efeito.

A terceira foi quando quebrei o direito, que não foi bem consertado, e se formou no local um calo ósseo, que às vezes dói sem avisar, hoje. Mas não tanto quanto quando fraturou.

A quarta foi a atual, a dor lombar que me incapacita para uma vida normal.

A pior sempre parece estar presente, porque é que estamos vivendo. A dor é única. Somente quem a sente sabe o que ela é. Faz parte da individualidade, do ser. Da personalidade.

Existem, porém, como dores coletivas, em que várias pessoas, ou uma coletividade, ou uma população, se sentem.

Por exemplo, a dor de ser discriminado por sua condição mental, ou de cor, ou de gênero. Ou quando um grupo compartilhar de pessoas parecidas, e seus participantes entre si sobre isso. Como bem mencionei, parecidas, nunca iguais.

Ora, as piores não são apenas físicas.

Nem coração mesmo como a do partido, ou a do luto, que todos os envolvidos.

São os mentais, como a depressão, em que a pessoa passa sozinha e poucos à volta a entender, acham que é bobagem ou frescura. A pessoa sofre por dentro, solitariamente, sem possibilidade de consolo.

Felizmente, existem medicamentos que ajudam a, digamos, eliminar estas últimas. Mas eles não as curam, pois são doenças para toda a vida. A pessoa não pode nunca parar de tomar o remédio. Se parar, a dor volta. E pode ser pior para retornar à não-dor.

Mas a dor faz parte da vida. Uma vida sem dores é uma vida sem emoções. Principalmente as que não são físicas. As emocionais, as dores da alma, são, mais que as físicas, sinais que que algo não vai bem.

Elas equilibram nossa vida de prazeres.

Tem gente que fala que de desgraça já basta a vida. Ora, a vida não é uma desgraça, é um dom que recebemos ao nascer.

Sempre existem os bons momentos, os prazeres... e as dores. Precisamos discernir isso bem em nossas vidas.

Mesmo quando temos transtornos mentais, que durem pelo resto de nossas vidas, eles permitem momentos prazerosos. É só aprendermos a buscar.

Assim é com todos os tipos. Tudo se equilibra.

Mas algumas nós podemos prevenir.

Podemos tomar mais cuidado ao subir ou descer uma escada. Podemos ter mais atenção ao dirigir um automóvel. Podemos ter mais cuidado ao subir ou descer de um ônibus. Podemos ter mais atenção quando andamos pela casa ou pela rua. Podemos ter mais cuidado com nossa alimentação.

Podemos orar com mais atenção no que falamos, com mais intensidade em nossa ligação com o Supremo.

Podemos meditar com mais vontade.

Podemos buscar ajuda para nossos problemas emocionais ou mentais.

A prevenção existe, e é a melhor maneira para nos recuperarmos de algo que nos aflige ou de não sentirmos determinada dor, ou de a minorarmos.

A dor sempre ensina alguma coisa.

Ensina a não repetirmos o ato que resultou. Ensina que não somos invulneráveis. Ensina a tratar com mais carinho de nossa vulnerabilidade humana.

 

Domingo cedinho, 16 de agosto de 2020.

 

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